Ser do trecho.

Como tudo na internet não tenho controle das pessoas que passam por este blog. Com certeza a maioria absoluta são amigos que conhecem bem a minha história, como vivo e onde vivo.

Mas vou tentar reproduzir aqui alguma coisa pra quem não conhece a vida de trecheiro, de quem vivo no trecho como eu. Em 12 meses 4 cidades diferentes e algumas histórias pra contar.

Ser do trecho é arrumar as malas sem saber o que vem pela frente, mas com uma única certeza: eu tenho que me acostumar!

É estar longe da família e dos amigos de confiança e conviver com pessoas que, geralmente, nunca viu e tentar fazer delas seus novos amigos, pois é com eles que estará convivendo dali pra frente.

É não ter todos os dias o abraço da mãe, do pai, dos irmãos, do marido ou da esposa e gastar uma fortuna em telefonemas para poder apenas ouvir a voz deles. Saber notícias corriqueiras.

É ter a alegria de reencontrar um amigo de trecho que não via há anos, se emocionar e constatar que "o mundo é grande, mas o trecho é definitivamente pequeno".

É acordar bem cedo para ir pro trampo e não saber que horas vai voltar.

Ser do trecho é falar mal da gata (empresa) quando o dinheiro não cai no dia certo e sair espalhando que não caiu.

É fazer, geralmente, trabalho desgastante e de responsabilidade, correr riscos, e estar sempre motivado.

Ser do trecho é ficar louco para ir para casa ver a família, sempre estar ligado em feriados, quando eles existem, pra poder ir pra casa rever a família.

É sempre passar um tempão tentando explicar porque leva essa vida e ninguém nunca entende, por que só quem está nessa consegue entender a vida do trecho.

É ter tudo cabendo em uma mala bem grande, e deixar o resto pra trás nas repúblicas por onde passa.

Ser do trecho é ser amigo, ser divertido, ser carente, ser batalhador.

É não ter feriado, fins de semana ou qualquer outro tipo de folga e sempre está pronto pra trabalhar fim de semana.

É ter a sanidade mental posta em cheque antes dos cinco meses de trabalho na gata (empresa).
É ter vontade de desistir, de largar tudo e ir embora. Horas que bate um desespero de pensar na família, da turma, na namorada todos longe.

É não se apegar ao teu lar, pois ter que se apegar a um lugar fixo deixará tua alma irriquieta e ansiosa pelo amanhã.

É fazer muita amizade, conhecer lugares diferentes, culturas diferentes.

E como dizem alguns: “Ser do trecho é uma questão de estilo: ou vc tem ou vc não tem”

Só quem vive sabe como somos e como estamos.

Somos guerreiros e pensamos em um futuro melhor para os que amamos.

Tem gente que diz que viver assim é burrice, loucura, coisa de doido mesmo.

Mas, eu discordo. Apenas penso que somos diferentes.